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Arquitetos: NeuronaLab
- Ano: 2022
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Fotografias:Pol Viladoms, Rosario Kuri
Descrição enviada pela equipe de projeto. Esta casa entre empenas foi adaptada funcional e climaticamente para responder às necessidades da vida familiar dos seus novos proprietários, respeitando o meio ambiente e fomentando as relações com os vizinhos da parte antiga do município. Trata-se de uma residência com fachada dupla altamente diferenciada. Uma mais intimista voltada ao sul com muita luz solar e outra pública voltada para uma das ruas pedonais do centro do bairro, ao norte.
O conceito do projeto surge do corte. Inicialmente era uma construção típica entre medianeiras com telhado de duas águas. Com o simples gesto de alongar uma de suas águas na ponta da cumeeira, gera-se uma claraboia horizontal que permite a entrada do sol no inverno e a ventilação cruzada tão benéfica para conseguir um confortável ambiente interno. Deu-se muita importância aos espaços de transição entre o público e o privado, mas também entre a diferença de temperaturas ao longo de todo o percurso desde a rua até ao interior do pátio. Uma grande abertura ao sul foi criada para gerar a continuidade entre interior e exterior na área do pátio. Essas grandes superfícies envidraçadas exigem gestos de projeto que alcançam o conforto climático interno e também a privacidade necessária para o cotidiano de seus habitantes.
Em um clima cada vez mais extremo, onde os verões são muito quentes, é necessário criar espaços intermédios ou zonas intersticiais. Neste caso, optou-se por retirar o fechamento da fachada, criando um pequeno alpendre enfatizado por uma solução tradicional baseada em persianas de madeira para obter uma área sombreada generosa que consegue atenuar o calor durante os meses de verão. No inverno, essas proteções podem ser facilmente enroladas ou removidas para permitir que a incidência solar entre na cozinha. Em termos de materialidade, optamos por preservar os seus elementos principais mais característicos como o concreto ou as vigas de madeira, as suas abóbadas de cerâmica e a sua cobertura em telha, em combinação com materiais duráveis e pouco processados como o concreto armado com acabamento polido, madeira de abeto e pedra natural. A casa tem instalação aerotérmica, piso radiante, recuperadores de ar, descalcificador de água e possibilidade de instalação de painéis fotovoltaicos. O isolamento térmico do exterior foi reforçado com o sistema SATE. Todos os revestimentos e tintas foram estudados e propostos de um ponto de vista saudável tanto para o meio ambiente quanto para seus habitantes.
O projeto foi abordado a partir de uma análise profunda do estilo de vida da família, estudando suas necessidades e seus costumes cotidianos no espaço doméstico. O estilo foi respeitado, de modo que seu filho de dois anos tem autonomia para ter seus utensílios, brinquedos e roupas ao seu alcance. Nesse sentido, foram contemplados detalhes como a altura dupla do corrimão e os puxadores de seus armários. Foi também considerada a possibilidade de receber hóspedes em casa num sótão superior ainda a definir. Os regulamentos municipais consideram a necessidade de reservar um estacionamento na entrada da casa. Este espaço será também utilizado como zona de transição entre o espaço público da rua e a entrada, onde estarão estacionados bicicletas, patinetes, carrinhos de bebê, mas também onde serão realizadas oficinas de artesanato infantil. Atualmente os protagonistas da casa são um casal com um filho pequeno mas eles pretendem ampliar a família. Dessa forma, as áreas foram equipadas de maneira que estejam claras as atividades que serão ali realizadas: descansar, brincar, cozinhar, comer, mas também permite um grau de indefinição em espaços como o sótão, o pátio e até mesmo a área anterior à entrada porque o que realmente oferece flexibilidade em uma casa não são divisórias móveis ou mobiliário transformável, mas a criação de cômodos sem uso definido. A passagem do tempo e seus habitantes o dirão.